Mário Pinto de Andrade na mira de Agostinho Neto

Tudo começou com uma entrevista (aparentemente) linear. Dino Matross, secretário-geral do MPLA, sobre Mário Pinto de Andrade, depois de uma cópia digital do espólio do nacionalista ter sido entregue ao MPLA por Henda Ducados, filha do primeiro presidente do partido: "Mário Pinto de Andrade não tem nada a ver com a Revolta Activa". Afirmação repetida e repetida, ao ponto de me deixar irracionalmente confuso, confesso.

Pois bem. Não só Mário Pinto de Andrade foi uma das figuras centrais da Revolta Activa, como as condições em que saiu de Angola, em 1975, terão tido muito a ver com a repressão que Agostinho Neto e o MPLA desencadearam contra os signatários do famoso "Apelo dos 19". Nesse espólio que Dino Matrosse recebeu em mãos, evidenciando a sua importância, constam documentos em que Mário Pinto de Andrade assegura estar a ser alvo de uma conspiração para o matar, orquestrada por um dos assessores pessoais de Agostinho Neto.

Há quem diga que este artigo não promove a "reconciliação". Não posso estar mais em desacordo. Reconciliação não é ficar calado perante o branqueamento da História, por altos dirigentes do partido no poder ou por quem quer que seja, só para não provocar ondas. Reconciliação é, sim, não andarmos a tapar o sol com a peneira, encararmos o passado de frente e seguirmos adiante, em paz com o que aconteceu, e com "o outro", apesar das cicatrizes.

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