Arménio Vieira: "O meu lado infantil está radiante"

Entrevistei Arménio Vieira cerca de uma semana depois dele ter ganho o Prémio Camões 2009. Lá estava o poeta, todo vestido de branco, eternamente sentado na esplanada do "Café Sofia" na "Pracinha" do Plateau, Cidade da Praia. Uma figura.

A conversa durou horas, ao ritmo das cervejas que ele insistia em mandar vir ininterruptamente, ante a minha inútil resistência. "És um jovem, podes beber dois litros!". No final, estava totalmente inebriado, não pela cerveja, que aguento bem, mas pela dimensão alienígena para onde Arménio Vieira me transportou com a sua forma abstracta de contar as coisas simples, os saltos temporais repentinos, as alternâncias bruscas de tom, os episódios meio-contados, meios por contar, que rematava muito mais à frente quando já nem lembrava deles, o paralelismo de discursos. Por várias vezes testou os meus sentidos, num jeito que fiquei sem perceber até que ponto era natural ou um exercício-alimento da sua "aura" do poeta.

Quando me despedi de Arménio, tinha coisas "mundanas" para fazer, mas não conseguia orientar-me. Fui obrigado a sentar-me durante uns minutos, a recuperar o raciocínio lógico e terreno para me poder organizar e desenlaçar o nó gigante em que o meu cérebro se tinha transformado. E, claro, tentei forçar-me a acreditar, ainda que sem grande convicção, que iria conseguir pegar o fio à meada e escrever uma entrevista coerente e publicável. Uma daquelas experiências únicas, que só o jornalismo proporciona.

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