Cabo Verde: Ilhas no centro do mundo
Não escondo a ninguém a minha enorme paixão por Cabo Verde. Vivi na Cidade da Praia durante um ano e meio, aproximadamente, onde comecei a minha vida profissional no jornal "A Semana". Aprendi muito, vivi muito, e criei uma rede de amigos do peito que preservo até hoje como um tesouro inestimável.
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Quanto aterrei no Sal, em Janeiro de 2005, pouco mais conhecia do que os nomes (e pouca música) de Cesária Évora, Tito Paris e Ferro Gaita. Quando saí, em Março de 2006, porque as saudades de Angola eram já insuportáveis, trouxe comigo uma admiração enorme por um país que, aprendi, é extremamente rico não só na sua cultura, como nas paisagens e, sobretudo, nas pessoas, que têm um amor enorme pelo seu "tchon" e uma grande capacidade de trabalho. Talvez tenha sido a mistura destas componentes que tenha feito de Cabo Verde, arquipélago que o FMI carimbou como "inviável" depois da independência, em 5 de Julho de 1975, uma referência em termos de estabilidade económica, política e social em África.
No entanto, há que fazer avisos à navegação. Quem vive lá e tem algum distanciamento em relação ao país (inevitável quando se é estrangeiro) apercebe-se que, de certa forma, a sociedade cabo-verdiana está a adormecer e a baixar o seu nível de exigência democrática. Quando se recebem, quase diariamente, louvores, distinções e elogios vindos de todos os cantos do mundo, tende-se a baixar os braços e acomodar-se.
Apesar do mérito, que é real, ser-se referência da boa governação, estabilidade macro-económica, democracia e liberdade de imprensa, tendo como base de comparação os restantes Estados africanos não é, propriamente, um presente glorificador, por muito que o poder político (disforme nas suas opções de alternância) tente dizer que não, capitalizando a enxurrada de loas da comunidade internacional junto do eleitorado. Até porque o quadro não é tão perfeito como pode parecer à primeira. Vão-se sucedendo atitudes arrogantes por parte dos governantes, o discurso optimista do PAICV está gasto e tornou-se enfadonho, a sociedade civil é altamente descomprometida, a imprensa, bicéfala, é dominada por interesses partidários, e os elogios de uma comunidade internacional de olhos postos no interesse estratégico do arquipélago exigem, como é óbvio, uma moeda de troca.
Muitos jovens sabem disso e estão preocupados. É isto (bem como as relações entre Cabo Verde e Angola) que retrata este trabalho feito em Novembro de 2008, com base numa conversa informal , num fim de tarde no para mim mítico bar-restaurante Alkimist, na praia da Quebra Canela.
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Neste dossier inseri ainda uma reportagem inicialmente publicada n'"A Revista", do jornal "A Semana", sobre a comunidade cabo-verdiana do Prenda, em Luanda.
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