Antes do Rio II - Canavieiras


Cordel do Fogo Encantado substitui Jessier Quirino. O caminho fica mais verde. "Chover, chover". Planalto verde, estrada em curva e contra-curva, verde muito verde. "Chover, chover". O verde com histórias secas do sertão. Outras mas as mesmas.

"Choveu, choveu". Relatos também reais. Ciro em jeito de confidência e uma amizade a fortificar-se quilómetro a quilómetro. Fazendas de cacau, antigas e agora moribundas depois da praga em forma de cruz deitar por terra o sabor doce e provocar uma onda de suicídios. O caminho a avançar entre casas pobres. O sorriso da moça tipo índia, olhos claros e brilhantes, numa vila que não sei o nome. Compro doce de leite e maracujá e o queijo de búfala. Ela sorri com curiosidade pelo meu sotaque gringo e desaparece na cozinha, lá atrás.

O carro em viagem. "Foi tanta água que amarrotou". Itabuna, Ilhéus de Jorge Amado com o seu Pontal e a catedral ao longe. Olivença, a brasileira, na inflexação para sul que cruza Una e segue adiante na Costa do Cacau. Mangal a perder de vida e céu carregado, cinzento claro e escuro. Pingos de chuva, "pancadas", como se diz por aqui. O fim do caminho, depois do desvio para Canavieiras e da ponte de má memória, fim na beira de um rio paradisíaco pontilhado de barcos de pescadores e uma Iemanjá cenário de novela da Globo. A "Casa Verde" de dona Zezinha. Nha Zezinha, na verdade, mãe cabo-verdiana de Ciro. De Paúl, Ribeira das Pombas. Olhos claros e beleza a olhos mais que vistos de Santo Antão.

O resto foi o dia depois. Vila aos pés de um rio de duas fozes e de uma ilha no meio de praias extensas. Areal com cintura de coqueiros e cabanas de lambretas e cervejas. Numa ilha brasileira, baiana do sul, o "sítio" Kianda. Memórias de Angola.

Canavieiras pequenina com a sua traça novecentista, edifícios térreos e coloridos, coreto no meio da praça, a "gaiola" onde Kubitschek discursou. Traça e ruas empedradas também a lembrar as de Cabo Verde. Um açaí para lá de bom e as palavras de quem o preparou, entusiasmadas com uma nova ponte que vai tirar um pouco mais Canavieiras do isolamento, mas que destruirá grande parte do mangal. Ele, ambientalista, com "Babilónia irada" na boca e bandeira de Bob Marley lá atrás. Fascinado com o "progresso".

O Ciro voltou a Salvador com a filha, Lu, que, depois de quatro dias de convívio, me taxou de provocador e tagarela. Eu fiquei mais uma noite. Para continuar para sul.

Comentários

Anónimo disse…
saudades, irmão! saudades. ciro
Álvaro Victória disse…
Esse rapaz, de tanto escrever já está a ficar parecido com o teclado!!!!!!!!!!!!!!!!! Mesmo assim, eu o admiro. porque? Porque gosto muito de computador!!!!!!!

Álvaro Victória

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