Antes do Rio I - Vitória da Conquista
De Salvador ao Rio, horas e horas de estrada. Com o eco do sertão baiano e de um Brasil diferente. História de pó, de fome, de terra gretada. Da espera da chuva que não vem, tão ao estilo cabo-verdiano. E da abundância momentânea durante os três meses em que o sabiá, que tem obrigação de cantar apenas quando chove, estremece a terra com o seu canto.
O trovador sertanejo Jessier Quirino no caminho tenso de camiões e noite até Vitória da Conquista. Voz em modo pause em Milagres, para uma fatia de um incrível bolo de milho e cheiro de café feito na hora. Jessier Quirino e o sertão, em apresentação exclusiva de Ciro Brigham, mestre de cerimónias da minha incursão pelo pedacinho do interior da Bahía que é a sua verdadeira casa.
Vitória da Conquista de noite, fria, com um enorme Cristo nordestino, magro, esquálido, petrificado em estátua em cima do morro, ao longe. Vitória da Conquista de dia, fresquinha, mito de uma cidade construída em cima de uma gigantesca tumba de índios assassinados em dia de vitória e de conquista. Comércio por todos os lados, gente por todos os lados, caldo de cana, queijo de cabaça, ovos de codorna, tripa frita, maravilhosa rabada e caldo de sururu. Cidade de planalto, terceira maior do estado.
A casa. Família de Maria Fernanda, kamba de Luanda. Filão de personagens - da matriarca ao cassule, o simpático Gugu - que me acolheram e me fizeram também família. Generosidade a toda a prova.
Discussão em condomínio fechado e electrificado. A divertida Lana e o seu reaccionário mas super amável vizinho. Beringela com mel e discussão. "Preto" e "negro" e o absurdo do politicamente correcto. Quotas na universidade para "negros" ou "pretos" brasileiros, África e Angola, literatura. E música. Que continuou depois, em bar de jazz com um poster da marginal de Luanda na parede. Memórias de um percussionista dono do espaço, que já tocou com Wiza e Paulo Flores. O depois e a viagem que continuou.
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