México: De costa a costa
Viajei. Desde as praias de Mazatlán, no Pacífico, às de Yucatán e Quintana Roo, no Caribe. Cancun, Playa del Carmen, a fantástica e ainda quase virgem ilha de Holbox, onde nadei ao lado de tubarões-baleia.
Fiquei de boca aberta em Tulum, Chichen Itza, Palenque, Monte Albán e Tenochtitlán, ruínas pré-hispánicas de Maias, Zapotecas e Astecas. Monumentais construções no meio da selva, com uma vibração intensa. E o antagonismo. Hoje, os descendentes destas civilizações formidáveis parecem fantasmas. Marginalizados e estigmatizados socialmente, são como sombras a passar nas ruas. Caminham junto às paredes, nunca no centro, de cabeça baixa, como que pedindo permissão para passar na terra que mais do que ninguém, é deles por direito ancestral. Fotos de cartão postal, apresentados pelos seus como algo exótico. É triste.
Percorri cidades históricas. A fervilhante Mérida, a pituresca San Cristóbal de las Casas, a histórica Guanajuato, e a pacata Oaxaca, com a sua Guelaguetza, o mais importante festival de folclore mexicano, que tive a sorte de assistir. Chiapas, com seus caracóis zapatistas, onde se tenta ser fiel ao modo de vida e ideal revolucionário delineado pelo comandante Marcos. Toluca e Metepec, centro de artesanato onde moram os meus grandes amigos mexicanos do tempo de Santiago de Compostela. San Luis Potosí, já mais para norte, com os seus chocolates. Puerto Veracruz, porta marítima do México e cheia de histórias de escravos africanos, que recolhi, e estou a escrever para publicar em Angola.
A Cidade do México, que afinal não é tão confusa e tensa como pensava. Museu de Antropologia, Belas Artes, a Catedral, casa azul da Frida Khalo, o centro histórico e a principal atracção para mim, o metro. Na hora de ponta, sempre que as portas se abrem, as pessoas atiram-se literalmente para dentro das carruagens, num vale tudo em que só se sentem e vêem pés, cotovelos e braços numa amálgama bem apertada de corpos. Uma espécie de candongueiro sobre carris. “Se houvesse metro em Luanda seria assim”, pensei várias vezes.
E Querétaro. A minha querida Querétaro, a minha cidade bipolar. Lá, na calle Pasteur, quase no cruzamento com a Avenida Zaragoza, vivi dois meses, enquanto fiz um curso intensivo de espanhol. Lá cheguei totalmente esfrangalhado, fiz a minha travessia do deserto interior e me recompus.
Querétaro. Cidade no centro do país, a três horas do Distrito Federal (Cidade do México). Nobre, colonial, dita conservadora, com um centro histórico ocre, verde e pedra, muito bem preservado. A cidade dos arcos. Lá começou o movimento que arrancou a ferros a independência do México, há 200 anos. Lugar pacífico, muito seguro, senhorial e religioso. E com muita vida. Todos os dias, nas ruas centrais, actuações de teatro, circo, concertos, gente de um lado para o outro. Cidade que começa a viver a partir das 10 da manhã, algo que me custou a acostumar.
Querétaro da animação, com uma noite fantástica, comida do melhor, e o bar bem simpático de Mbimbi, congolês de Kassai, filho de angolana, e que já viveu nas Lundas. Ponto de encontro dos muito poucos emigrantes africanos a viver em Querétaro, o restaurante era animado por festas de kwassa-kwassa, zouk, kizomba, cabo-love e tarraxinhas. Era também o palco, todas as sextas-feiras, do projecto de Luis Enrique, um mexicano que dirige um grupo de percussionistas queretanos que arrancavam sons magníficos dos seus batuques. E com duas dançarinas de danças tribais que... sim senhora.
Querétaro. Mais um território sentimental a acrescentar à minha lista de lugares a voltar, sempre. Onde deixei amigos, e uma história que vou retomar daqui a um mês, quando regressar, antes de sair definitivamente da América.
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