La Negra


Não me canso de a ouvir em repeat. Na verdade, tem sido a minha grande companhia para onde quer que vá. La Negra, Mercedes Sosa. Argentina, o seu chão, que a ama profundamente. É complicado para mim descrever o efeito que têm em mim a força desta voz, das músicas que canta, dos poemas que interpreta. Elevam-me. Creio que é o que posso dizer.

E como fazia com Pantera, em Cabo Verde, que admiro profundamente, mas que não tive a sorte de conhecer, também aqui faço questao de confirmar junto a todos a dimensão de Mercedes Sosa. A quem vou conhecendo faco a mesma pergunta, só para ouvir a mesma resposta: "Quando ela morreu foi comoção geral, nao foi?". "O país parou. Fizeram-lhe uma vigília de dias quando foi internada, e o velório foi uma coisa impressionante. Ela era muito amada por todos", resposta comum, mais palavra menos palavra. E lá vou eu com aquela sensação de que, realmente, há pessoas enormes neste mundo. O que é sempre reconfortante.

La Negra, idealista, exilada na ditadura argentina, la "mama grande", como lhe chamou Hugo Chávez quando ela faleceu. No seu corpo enorme de tucumana se aconchegavam jovens músicos apanhados no furacão do sucesso e da destruição total. Como Charly Garcia, rebelde irremediável que, nos braços de Mercedes Sosa, "se parecia como un niño", como me conta Gonzalo.

Mercedes. Curiosa coincidência do nome com uma paixão mais que publicitada pela alta velocidade. Ficou famosa por cá a sua frase: "a diferença entre conduzir bem ou mal está na quantidade de bichos que ficam colados ao vidro no final da viagem".

Tenho uma banda sonora desta viagem, em permanente expansão. E ela preenche a maior parte, sobretudo com os seus "zambas", música tradicional do norte da Argentina, marcada por uma percussão com contratempos lentos mas ao mesmo tempo alucinantes. "Balderrama", "Galopa Murrieta", o clássico "Gracias a la vida", "Maza", "Canción con todos", e outros tantos. Arrepiam-me da cabeça aos pés. E sobretudo têm tudo a ver com o lugar onde estou, com as paisagens e as pessoas. Na verdade, Mercedes Sosa, com a sua voz, os seus poetas e compositores, tem a vibração desta terra. Talvez seja sugestão. Talvez nao. La Negra lado a lado, nota a nota, rumo a rumo. La Negra.

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