Rebelião africana na Nova Espanha
Os testemunhos da época, como o do padre jesuíta Juan Laurencio, no relato "Campanha contra Yanga", falam de uma insurgência de grandes proporções de "morenos vindos de Angola e de algumas partes de Etiópia" que "começaram a fugir e a retirar-se numas ásperas serranias ". Evasão que, conta o livro "Cantón de Córdoba", "tomou tal incremento nos finais do século XVI, que chegou a constituir um perigo sério para a sociedade, pelos desmandos que cometiam as tropas de escravos escondidas nos montes". "Desmandos" que incluíam ataques a "estâncias de espanhóis" e a um dos pontos mais que estratégicos da economia da Nova Espanha: a estrada que ligava a Cidade do México ao Porto de Veracruz, onde chegavam as frotas espanholas.
O único documento que relata a chamada "Campanha contra Yanga" foi escrito pelo padre Juan Laurencio. Palavras e hipérboles do século XVII, comprometidas com o poder espanhol e com o valor então sacrossanto da "evangelização". Conta então o padre jesuíta que os militares começaram, "com o maior silêncio possível", a viagem até ao esconderijo de Yanga e Matoza, perto da actual cidade veracruzana de Omealca. "Caminhando por fora do caminho feito de pântanos e lodaçais", as tropas avançaram durante vários dias ao longo do Rio Branco, até que, no dia 22 de Fevereiro, se detiveram já perto da aldeia dos rebeldes."
A história da aldeia de Matoza
foi apenas o ponto final de uma rebelião ao estilo epopeia que estremeceu as
terras de Veracruz e da Nova Espanha (nome colonial do México), nos finais do
século XVI e princípios do século XVII.
Os testemunhos da época, como o do padre jesuíta Juan Laurencio, no relato "Campanha contra Yanga", falam de uma insurgência de grandes proporções de "morenos vindos de Angola e de algumas partes de Etiópia" que "começaram a fugir e a retirar-se numas ásperas serranias ". Evasão que, conta o livro "Cantón de Córdoba", "tomou tal incremento nos finais do século XVI, que chegou a constituir um perigo sério para a sociedade, pelos desmandos que cometiam as tropas de escravos escondidas nos montes". "Desmandos" que incluíam ataques a "estâncias de espanhóis" e a um dos pontos mais que estratégicos da economia da Nova Espanha: a estrada que ligava a Cidade do México ao Porto de Veracruz, onde chegavam as frotas espanholas.
O mentor e líder
político desta guerra de guerrilha, conta o padre Juan Laurencio no documento
do século XVII, chamava-se Yanga, de quem se dizia que "se não tivesse
sido capturado, seria rei na sua terra". Um reino situado, segundo os
historiadores actuais, na região do Alto Nilo. "Tinha um corpo airoso e um
porte elegante, era de modos belos e afáveis. Era tão respeitado e querido
entre os da sua raça que os negros costumavam chamar-lhe, muitas vezes, pai
Yanga", relata "Cantón de Córdoba". Durante os 30 anos em que
andou a monte e projectou a revolução, Yanga conseguiu agregar à sua causa um
número considerável de escravos, índios e europeus foragidos. Eram os chamados
"yanguicos".
Yanga começou por
instalar o seu quartel-general na vertente oriental do Citlaltépetl, nome
indígena do vulcão do Orizaba, o pico mais alto de todo o México, no sudeste do
país. Por motivos estratégicos, foi deslocando-se mais para sul, até se fixar
nas margens do rio Branco, na base da escarpada e quase inacessível serra
Zongólica. Aí, conta "Cantón de Córdoba", Yanga "organizou o seu
povoado numa espécie de monarquia" em que ele era o líder político e
civil. "Sendo já velho", relata por sua vez o padre Juan Laurencio,
"encarregou as coisas da guerra a outro negro de Angola, chamado Francisco
de la Matoza", também referenciado em vários documentos como Francisco
Angola ou Francisco de la Matiza.
Sangue e Liberdade
O pânico provocado pelos
guerrilheiros yanguicos era de tal ordem que o sinal de alarme soou na Cidade
do México, a capital da então Nova Espanha. Conta a História que, no início do
século XVII, "surgiu o rumor de que os negros iam tentar formar um reino,
matando as autoridades europeias e nomeando o seu rei e demais dignatários".
As autoridades coloniais
viram-se obrigadas a actuar contra Yanga
e Matoza, nessa época as principais
caras dos movimentos de escravos rebeldes. Organizaram, então, uma expedição militar
ao território sob influência dos yanguicos, liderada pelo capitão espanhol D. Pedro
González de Herrera. A 26 de Janeiro de 1608, segundo o padre Juan Laurencio,
ou de 1609, segundo fontes mais actuais, Pedro Herrera começou a marcha, com um
"exército de 100 soldados, um número quase igual de aventureiros e 150
índios armados com arcos e flechas, aos quais se juntaram 200 guerreiros
espanhóis, mulatos e mestiços", formando um total de 600 homens.
Rio Blanco, Veracruz. Fonte: El Universal |
O único documento que relata a chamada "Campanha contra Yanga" foi escrito pelo padre Juan Laurencio. Palavras e hipérboles do século XVII, comprometidas com o poder espanhol e com o valor então sacrossanto da "evangelização". Conta então o padre jesuíta que os militares começaram, "com o maior silêncio possível", a viagem até ao esconderijo de Yanga e Matoza, perto da actual cidade veracruzana de Omealca. "Caminhando por fora do caminho feito de pântanos e lodaçais", as tropas avançaram durante vários dias ao longo do Rio Branco, até que, no dia 22 de Fevereiro, se detiveram já perto da aldeia dos rebeldes."
Emboscada e Luta Política
A manhã do enfrentamento
começou cedo para as tropas do capitão Herrera, com uma missa. Às oito horas,
"partiram para dar assalto ao inimigo". Quando as forças espanholas
"se acercaram aos pedregulhos" que serviam de proteção aos escravos, os
yanguicos, que até ali tinham estado "encobertos e em silêncio", atacaram,
"como se fossem um relâmpago", "ao som de batuques". De repente,
"começaram a disparar" ininterruptamente lanças com ponta de ferro e
"muitas pedras", conta Juan Laurencio. Num movimento rápido",
conta o padre, os índios das tropas espanholas reposicionaram-se e subiram
pelos flancos", rodeando os yanguicos.
Segundo o jesuíta,
durante a batalha, "estando velho", Yanga não "saiu a
lutar", sendo substituído "pelo seu capitão de guerra, o negro
Francisco de la Matoza". Depois de horas de confronto, os espanhóis
entraram na aldeia, "provocando a debandada geral" dos yanguicos, que
se refugiaram "na espessura do monte que tinham ali perto", onde
"já haviam construído uma outra fortificação ". Nessa altura, continua
o padre Juan Laurencio, Yanga "já ia com a sua gente a caminho de outra
aldeia", por entre "uma vegetação tão espessa que não se via o
céu" e onde não se podiam "pôr de pé, tendo de caminhar de
gatas".
Nos dias seguintes, os
combates prosseguiram. Depois de vários encontros com as tropas rebeldes, o
capitão espanhol acabou por alcançar Yanga e o seu povo. Começava, assim, uma
luta política entre os escravos africanos e o então Vice-Rei da Nova Espanha, o
Marquês de Salinas Don Luiz de Velasco, para garantir aos yanguicos uma terra
onde pudessem viver em liberdade.
O sistema de defesa e de logística que Yanga e Matoza formaram para manter a sua rebelião era complexo. Ler mais
San Lorenzo de los Negros, terra livre
A captura de Yanga, ao contrário do que desejavam os espanhóis, não levou à submissão do líder africano. Em vez de se render, o escravo rebelde optou pela via diplomática para garantir a liberdade do seu povo, os yanguicos. Ler mais
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San Lorenzo de los Negros, terra livre
A captura de Yanga, ao contrário do que desejavam os espanhóis, não levou à submissão do líder africano. Em vez de se render, o escravo rebelde optou pela via diplomática para garantir a liberdade do seu povo, os yanguicos. Ler mais
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