A viagem de Álcida


Sons do fundo do baú. Em Maio de 2004, fiz uma viagem forçada de candongueiro entre o Huambo e o Kuíto. O avião da Air Gemini fretado pelo Programa Alimentar Mundial que partiu de Luanda com destino ao Bié decidiu não levantar voo depois da escala no Huambo. Sem explicações.

No mesmo avião seguia Álcida, uma freira de Cabinda que se tornou na minha companheira de viagem. "Vamos de Hiace para o Kuito?" "Vamos!", respondi. Não podia perder tempo. Ia com a missão de fazer uma reportagem para a Rádio Ecclesia sobre a exumação de corpos na "Cidade Mártir". Fomos então à boleia do aeroporto até ao São João, e aí começou uma odisseia.

Quando chegámos ao Kuito, já noite, não tinha onde ficar. A Álcida levou-me para a casa das irmãs franciscanas, no meio da escuridão. Passei aí a noite num colchão improvisado na sala de jantar. Ficámos amigos. Três meses depois estava em Espanha quando recebi um email-murro-no-estômago: a Álcida teve um acidente num candongueiro no mesmo trajeto que fizemos juntos. A Álcida morreu.

Transformei a viagem numa crónica radiofónica. Foi transmitida em Maio de 2004 na  Rádio Ecclesia, onde estagiava. É agora uma homenagem. A viagem de Álcida.

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