Viagem ao Reino do Congo


Em 2004, visitei Mbanza Congo, como parte da equipa da Rádio Ecclesia. Estagiava então nesta emissora. Em conjunto com organizações internacionais, jornalistas e técnicos da rádio implementavam o Projeto de Expansão do sinal da RE a todo o território nacional. Um processo complicado, constantemente reprimido pelo governo angolano de forma implícita - nunca oficialmente.

Para contornar a proibição-não-proibida, a equipa deu formação em técnicas jornalísticas a profissionais de Mbanza Congo e de outras províncias, reunidos na cidade. Dias depois, abriram o sinal da chamada "Rádio Católica de Mbanza" e assim começava uma emissão arriscada. A experiência durou pouco. Menos de 48 horas depois,  a polícia e os serviços de informação entraram pelos estúdios e obrigaram-nos a arrumar as imbambas e a regressar.

Durante a estadia de uma semana fiz várias reportagens que foram emitidas na frequência da Rádio Católica de Mbanza e na Rádio Ecclesia em Lunda.

Uma delas, foi uma viagem pela história do mítico Reino do Congo, que tinha em Mbanza Congo a sua capital. Visitei os lugares sagrados e o Palácio dos Manikongos (os soberanos do reino); ouvi os mais-velhos detentores da tradição; assisti a um ritual de invocação dos espíritos dos antepassados (que sonoriza a peça); mordi cola e bebi o maruvo ritual. E já depois, contextualizei a história com os comentários do saudoso historiador Fernando Gamboa, especialista na matéria. Foi a minha primeira experiência em reportagem radiofónica.

Publico hoje a reportagem "Viagem ao Reino do Congo", como celebração e homenagem a toda a equipa da Ecclesia. Catorze anos depois dessa tentativa reprimida pelas autoridades angolana, a RE  abriu o sinal em Mbanza Congo e em toda a província do Zaire. É o resultado de uma luta de mais de 20 anos contra a negação da liberdade de expressão e liberdade de imprensa. E um sinal de que, finalmente, alguma coisa parece estar a mudar nesta minha Angola que amo com todo o meu coração.

Recuemos então lá atrás, ao tempo dos manikongos.

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