Foroyaa, liberdade!
Gâmbia. Passei lá cerca de uma semana e meia, a convite da Associação Justiça, Paz e Democracia, para cobrir a 46ª Sessão da Comissão Africana dos Direitos Humanos. Paralelamente, fui tentando perceber um pouco um país dominado por Yahya Jammeh, o presidente-ditador que há 15 anos comanda com mão de ferro a vida daquelas pessoas. Mortes, prisões e desaparecimentos de jornalistas e políticos, um Estado altamente policiado onde todos desconfiam de todos, uma cultura de silêncio total e um culto de personalidade digno de um regime autocrático que se preze. Foi o que encontrei.
A própria delegação em que viajei (três angolanos, uma sul-africana e um congolês democrático), e que viajou por terra desde Dakar, foi barrada na fronteira da Gâmbia. Mesmo com vistos passados em Luanda, não nos queriam deixar entrar. As profissões, "jornalista" e "defensores dos direitos humanos" não ajudavam muito, decerto. Só depois de muita conversa, e de se telefonar para a Comissão Africana, que confirmou que estávamos ali para assistir à reunião, é que nos deixaram seguir viagem.
A própria delegação em que viajei (três angolanos, uma sul-africana e um congolês democrático), e que viajou por terra desde Dakar, foi barrada na fronteira da Gâmbia. Mesmo com vistos passados em Luanda, não nos queriam deixar entrar. As profissões, "jornalista" e "defensores dos direitos humanos" não ajudavam muito, decerto. Só depois de muita conversa, e de se telefonar para a Comissão Africana, que confirmou que estávamos ali para assistir à reunião, é que nos deixaram seguir viagem.
No meio deste caos subterrâneo, personagens. Como Fabakany Ceesay, um jovem jornalista do jornal independente, Foroyaa, de quem fiquei amigo e que me levou a conhecer um pouco os subúrbios de Serekunda, uma cidadezinha próxima a Banjul. Boné de Che Guevara e um compromisso desgraçado com a liberdade, com o progresso do seu país, e com os ideais dos mais velhos pan-africanistas. Idealista q.b. e uma vontade imensa de viver.
E há o povo, que contrasta totalmente com esse clima de repressão. Os gambianos são altamente cordiais, muito simpáticos e afectuosos. E muito "cool". Têm uma adoração por Angola, a "terra dos diamantes", que me surpreendeu. Nós não sabemos nada sobre eles, eles sabem muito sobre nós. Não queriam acreditar como eu, angolano, não sabia quanto valia um diamante no mercado. E pior, ficaram estupefactos por eu nunca ter visto um diamante ao vivo, na minha vida. Como se fosse escavar um pouco no quintal e apanhá-los com a mão. Somos mesmo bons a vender a nossa imagem para o exterior, não vale a pena!...
Num clima tropical e muito muito quente, o reggae. Ouve-se literalmente em todas as esquinas de Banjul - cidade ou bairro, rua ou beco. Até em árabe e wolof. Está totalmente em consonância com a forma de ser dos gambianos que conheci. Uma "boa onda" que poderá ser, quem sabe, uma forma de reagir ao medo, de descontrair e não entrar em paranóia. Aqui em baixo, uma reportagem que publiquei na última edição do Novo Jornal. Uma sincera homenagem aos que, na Gâmbia, acreditam, resistem e lutam pela liberdade e dignidade.
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