Que comece o candombe!
As comparsas criadas no final do século XIX, em substituição
das Salas de Nações, são, ainda hoje, o núcleo central desta tradição que
sofreu uma mutação impressionante. "O candombe virou moda, e já não
importa se és negro ou branco para poder alinhar numa comparsa, o importante é que
sintas essa unidade colectiva em torno do tambor ", assegura Lailo
Baraibar.
Neste furacão de ritmo e tradição, o olho continua a ser, tal qual como no tempo dos primeiros escravos, as llamadas. Em desfiles organizados ao longo de todo o ano, dezenas de comparsas alinham-se em filas de batuques, conhecidas como cuerdas. Cada cuerda conta obrigatoriamente com três tipos de tambores - chico, repique e piano . Cada um batuca um palavreado diferente, formando o que Lobo Nuñez chama de "idioma da llamada". Nestes diálogos de tambores afinados ao calor das fogueiras, os candomberos percorrem os bairros Sur, Palermo e Cordón, animados pela cerveja que corre, solta, de mão em mão.
Neste furacão de ritmo e tradição, o olho continua a ser, tal qual como no tempo dos primeiros escravos, as llamadas. Em desfiles organizados ao longo de todo o ano, dezenas de comparsas alinham-se em filas de batuques, conhecidas como cuerdas. Cada cuerda conta obrigatoriamente com três tipos de tambores - chico, repique e piano . Cada um batuca um palavreado diferente, formando o que Lobo Nuñez chama de "idioma da llamada". Nestes diálogos de tambores afinados ao calor das fogueiras, os candomberos percorrem os bairros Sur, Palermo e Cordón, animados pela cerveja que corre, solta, de mão em mão.
O sentimento que se cria nestas reuniões massivas, garantem
, é indescritível. Maxi López, um dos grandes fotógrafos uruguaios do candombe,
conta à Austral que, durante as llamadas,
"o sangue arde, acontecem coisas mágicas ". Ao mesmo tempo, comenta o candombero Juan Forgetto, uruguaio
residente em Buenos Aires, "através do som dos tambores, partilhamos
alegrias e tristezas", o que gera "uma frequência inexplicável ".
"Com o som dos tambores, quando se atinge a harmonia total no toque,
escuta-se uma voz humana grave vocabulizar, são os nossos antepassados!",
assegura Maxi López.
"As chamadas nos
chamam"
A vibração dos tambores, entretanto fundida com outros
ritmos em projectos experimentais, é apenas uma parte de todo o espectáculo do
candombe. Mais que ritmo, "as llamadas são um impressionante desfile
de colorido e dança", descreve à Austral Mary Portocasas. O trabalho amplo
desta pintora sobre o candombe retrata os personagens principais dos desfiles:
as mama viejas, rainhas das comparsas;
os escoberos, com os seus bastões,
que orientam o desfile, ao estilo dos comandantes dos carnavais de Luanda; e o gramillero, homem que representa a
sabedoria africana ancestral e que desfila curvado e com umas invariáveis
barbas brancas postiças.
Atrás destes personagens míticos, vêm uma série de guerreiros
africanos, mamãs mais-velhas a fazer lembrar as bessanganas da Nguimbi, e um
sem fim de símbolos - máscaras ancestrais, meias-luas e estrelas. Frenética, cada
comparsa dança e agita as suas bandeiras e baluartes, à medida que desfilam,
entre todos eles, as vendettes, moças
que parecem saídas do Sambódromo do Rio de Janeiro. Trajes minúsculos, corpos
esculturais e plumas por todos os lados.
Para lá de Montevideu
© Candombe TV/Maxi López (www.candombe.tv) |
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