A Rota do Desespero: Angolanos ilegais a caminho dos Estados Unidos

O céu da selva do Darién, na rota de migração africana na América Latina (BBC Mundo/Camilo Estrada)


















Esta série de reportagens sobre a rota de migrantes angolanos, de Luanda até aos Estados Unidos e Canadá, foi a minha vida durante mais de meio ano. Foram dezenas de entrevistas com migrantes, especialistas, académicos, jornalistas, trabalhadores sociais e instituições de governo de dez países. Cruzar fontes, apanhar pistas no ar, uma viagem à fronteira do México com a Guatemala. Foi emocionalmente desgastante. As histórias destas pessoas transformaram-se em sonhos recorrentes, noite após noite. Ainda hoje ressurgem, por vezes.

Foi um mergulho também nas raízes da violência familiar, pobreza e da crise económica e social em Angola. Ver angolanos nas filas de espera de migrantes no meio da selva do sul do México foi impactante e muito triste. Reflexão do tipo "que diabos fizeram do nosso país?", numa altura em que Luanda Leaks estava a bombar.  Mas o que realmente os fez viajar por quase 30 mil km numa rota mortal que cruza montanha, selva, países perigosos onde os narcos e traficantes de pessoas muitas vezes os raptam e matam? Melhor vida? Desespero?

Descobri, basicamente, que os angolanos (e outros africanos, também cubanos, haitianos e asiáticos) que se lançam nesta viagem do Equador aos Estados Unidos ou Canadá (muitos deles via Brasil) não têm qualquer noção dos perigos desta rota. São alentados ou guiados por "coyotes" (traficantes de pessoas), que lhes falam numa viagem fácil. Caem numa armadilha fatal. Alguns arrependem-se. Outros nem tanto. O resultado desta investigação foram cinco reportagens extensas (alguns dizem que demasiado, que isto era mais livro que outra coisa) publicadas em Angola, no Novo Jornal (online e impresso).

As reações foram diversas. Supresa, raiva, tristeza. Em Angola, há também quem diga que isto não é verdade, que as pessoas que se lançam nesta rota não são angolanos, mas outros africanos que com passaportes falsos. Que os angolanos nunca o fariam. Pois bem, em parte é verdade. Muitos congoleses-democrátivos, sobretudo, realmente adotam este esquema. No entanto, há sim centenas de angolanos a fazer esta viagem. Conheci alguns em Tapachula. A Embaixada de Angola em Washington confirma-o e reforça: há angolanos a desaparecer e a morrer no caminho. Esperava esta reação. Vivemos num estado permanente de negação das nossas dificuldades.

Falta agora investigar os esquemas em Luanda que iludem os migrantes a fazer esta viagem. E que falsificam e vendem passaportes com identidades falsas a outros africanos que se lançam nesta rota. Um trabalho em curso. Aqui as cinco reportagens da série.

1. Os invisíveis

Milhares de africanos saem do Equador para os Estados Unidos (Pedro Cardoso)

Desde 2014, centenas de angolanos estão em marcha desesperada pela selva, montanhas e desertos da América, em migração clandestina para os Estados Unidos ou Canadá. Fogem da insegurança e da crise económica no país, num caminho perigoso onde vários angolanos já perderam a vida. Ler aqui.

2. Os afogados

Migrantes africanos no norte da Colômbia em direção à selva do Darién, no Panamá (El Tiempo/Javier Nieto)

A rota de migração ilegal de africanos que parte do Equador para os Estados Unidos e Canadá segue de Quito para o Caribe colombiano. No extremo norte do país, o mar é cemitério. Os migrantes angolanos Luzia, Ana e João passam agora por águas e praias onde, há precisamente um ano, crianças angolanas afogaram-se ao tentar cruzar num barco ilegal para o Panamá. Ler aqui.

3. Os perdidos


O Serviço Nacional de Fronteiras do Panamá patrulha a selva do Darién. (BBC Mundo/Camilo Estrada). 

Por terra ou por mar, os angolanos Luzia, Ana e João chegaram ao Panamá. Avançam agora a pé pelo “Tampão do Darién”, selva perigosa e mortífera, a caminho dos Estados Unidos e Canadá. Os corpos de africanos que não aguentaram a viagem afundam-se nos pântanos. Os ladrões, narcotraficantes e violadores escondem-se na vegetação impenetrável. Neste “inferno na terra”, Luzia esperou a morte. Ler aqui.

4. Os passageiros

Cartaz escrito maioritariamente em português, pedindo ajuda para continuar viagem (Grupo Nación)

O caminho penoso e interminável da selva ficou para trás. Com poucas paragens, os angolanos Ana e João avançam pela Costa Rica, Nicarágua, Honduras e Guatemala. Nas esquinas das fronteiras, os esquemas de corrupção abundam. Passo a passo, juntam-se aos milhares de centro-americanos que também tentam chegar aos Estados Unidos. Ler aqui.

5. Os ilegais

Família da República Democrática do Congo chega a Portland, (Portland Press Herald/Ben McCanna)

O fim do caminho. Cada vez mais angolanos chegam à fronteira do sul do México, vindos do Equador. Encontram um muro militar que não os deixa continuar. Alguns fintam as autoridades e conseguem chegar aos EUA e Canadá, onde se organizam para começar uma nova vida. Despedimo-nos de Ana e João. Reencontramo-nos com Luzia por quem a conheceu. Ler aqui.


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